quinta-feira, 18 de setembro de 2014

O Teatro Centro Cultural UFG apresenta o lançamento do livro "Hannah Arendt e a Modernidade." de Adriano Correia.




O trabalho de Adriano Correia é hermeneuticamente impecável, rigoroso sem ser pedante, erudito sem perda de inspiração e vivacidade, literariamente elegante e fiel ao espírito crítico tanto de Arendt quanto dos demais filósofos que, com raro talento e competência, o autor agencia neste livro.
O livro inova, em relação às pesquisas anteriores de Adriano Correia, como, aliás, não poderia deixar de ser, tendo em vista a inquietação constante e a produtividade de sua atuação no campo da filosofia. Conserva, no entanto, o essencial de seu concernimento em relação à obra arendtiana, chamando a atenção para sua atualidade e relevância no atual contexto de espetacularização da política e banalização da vida. Na era da extensão planetária da fabricação, perdemos em ritmo acelerado a capacidade de estar junto dos outros, o discurso transforma-se assustadoramente naquela tagarelice que Heidegger denominou de ‘Gerede’, nutrida pela propaganda, e que nada tem a ver com o que Habermas entende por racionalidade discursiva. Portanto, a filosofia de Arendt tornou-se, para nós, atmosfera vital, com sua exigência de compreender, sua ‘paciência do conceito’ e seu cuidado kantiano da vontade, indispensáveis para a sobrevivência do pensar e da condição verdadeiramente humana de ser-no-mundo e de ocupar o espaço público. Quando o animal laborans domina toda esfera da biopolítica, as pessoas são coagidas a ser apenas ‘pró’ ou ‘contra’ as outras, obedecendo, sem reflexão, as agendas que preformatam um arremedo de pensamento, capturadas na armadilha fatal do amigo/inimigo, imersas na violência cega dos meios e completamente insensíveis à dignidade da política.


Decididamente moderna, Hannah Arendt buscou pensar sua própria época com entusiasmo e crítica. Entusiasmou-se com o espírito revolucionário, a reavivar as expectativas de dignificação da vida política, e criticou as compreensões do espaço político que fragilizaram a política ante a dominação totalitária, notadamente aquelas que confundem ou submetem a política à economia. No estabelecimento de diálogos da obra arendtiana com a de autores como Michel Foucault, Giorgio Agamben e Jürgen Habermas, neste livro são examinados aspectos vários da relação entre economia e política na modernidade, principalmente aqueles que de modo mais evidente minam a dignidade da política.
Seguramente, considerando que são temas clássicos da obra arendtiana o totalitarismo e a prevalência moderna do econômico, a crítica salta mais à vista que o entusiasmo. Também por isto neste livro – além de examinar a relação entre o público e o privado, o conceito de poder, o liberalismo e a subjugação da política à economia, a vitória do animal laborans, a sociedade dos consumidores, a esfera social e o problema da justiça – é central a reflexão sobre o entusiasmo de Hannah Arendt com as revoluções e os sistemas de conselhos.
Arendt cultivava uma fenomenologia genealógica na qual eram decisivos os eventos históricos e as experiências deles decorrentes, mas também as configurações dos modos de vida – nas tensões, inversões e transfigurações entre seus diferentes âmbitos e forças. Importava a ela traçar a genealogia dessas transfigurações e das forças que as presidiram, ainda no escopo da busca por compreender o que estamos fazendo, que subjaz à elaboração deste livro. Ao focar a relação entre economia e política na interpretação arendtiana da modernidade aspira-se evidenciar que há mais a temer que o totalitarismo, pois as cadeias da necessidade podem ser feitas de seda.
 


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